Redução da maioridade penal é tema de evento com batalhas de rap

O Largo dos Pescadores de Piracicaba (SP), tradicional ponto turístico da cidade, será palco de um evento que vai debater a redução da maioridade penal. Idealizado um grupo de moradores, o “Ocupe o Largo” vai debater o tema por meio de uma série de atividades como batalha de MC’s, grafites, teatro e mostra de vídeos.
O evento, que acontece neste sábado (30), das 17h às 21h, também conta com uma mesa de debates com representantes da Fundação Casa e do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, entre outros. A entrada é gratuita.
A ideia surgiu de um grupo de amigos e o objetivo é utilizar o espaço público com cultura e reivindicações sociais. O evento conta com o apoio de entidades da cidade, como o Fórum dos Movimentos Sociais de Piracicaba, o Coletivo Piracema e a Casa do Hip Hop de Piracicaba.
“É como se fosse uma ida ao parque com a família em um sábado e, em só um lugar, encontrasse lazer e discussões de temas atuais”, afirma o publicitário Thiago D’ Angelo, de 30 anos, um dos organizadores do evento.
A programação começa às 17h com painéis interativos, onde os visitante poderão sugerir temas para as próximas edições. Até às 21 horas, estão programadas mesas de debate, batalha de rap com os MC’s Aleph, Pedrinho Fractal, Afrow e Pin De Buenas e grafites com Vírus Diógenes e Thiago.
De acordo com a organização do evento, a mesa de debate sobre a redução da maioridade penal será composta pelo diretor da Fundação Casa, Flagas Rodrigues Lopes, o presidente do Conselho Municipal da Criança e do Adolescente, Marcolino Malosso Filho e representantes da Casa do Hip Hop de Piracicaba, Bira Pper, do Levante Popular da Juventude (Tuka) e da Central Única das Favelas (Cufa). 
Fonte: G1

Garotas internadas sofrem o mesmo que adultos na prisão, diz estudo

As medidas socioeducativas de internação para adolescente do sexo feminino não cumprem os preceitos estabelecidos no Estatuto da Criança e do Adolescente e, na prática, reproduzem os problemas do sistema prisional não somente por violações aos direitos fundamentais da pessoa privada de liberdade, mas por ser uma ramificação do sistema penal.
As conclusões são de um estudo encomendado pelo Conselho Nacional de Justiça à Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Uma equipe de professoras e alunos da instituição, junto ao Grupo Asa Branca de Criminologia, entrevistou jovens, agentes socioeducativos e funcionários da equipe técnica de seis instituições de internação localizadas no Distrito Federal, Pernambuco, São Paulo, Rio Grande do Sul e Pará.
Diante desse quadro, diz a pesquisa, persistem violações aos direitos humanos na execução das medidas por conta de deficiências de estruturas físicas de abrigo, ausência da visita íntima, problemas referentes à escolarização, disciplina interna, higiene, saúde e maternidade.
A situação ocorre ainda que o número de internadas em relação aos rapazes seja bem menor: de acordo com os últimos dados nacionais oficiais, enquanto eram contados 11.463 meninos internados, o número de meninas estava em 578.
Sem defesa
O estudo também aponta que muitas adolescentes não tiveram como se defender satisfatoriamente no curso do processo que levou até a internação, e relatam também não conhecer a sua real situação jurídica, demonstrando enorme ansiedade com a possibilidade de saída.
Em uma unidade do Pará, por exemplo, várias adolescentes disseram que não chegaram a ter qualquer contato com advogados ou defensores, salvo no dia da audiência de seu processo. Algumas afirmaram que há descontentamento da equipe com o comparecimento desses profissionais à unidade. Em outra unidade, em São Paulo, nenhuma adolescente entrevistada possuía advogado particular, mas relataram a presença de defensor público.
Sem preparo
A pesquisa aponta que as unidades não estão preparadas para lidar com questões de gênero das adolescentes do sexo feminino. “A equipe de funcionários, desde os agentes socioeducativos até a equipe técnica, não têm preparação ou suporte estatal necessário e suficiente para lidar com os conflitos da adolescência, as questões específicas de gênero”, relata o estudo, segundo o qual os agentes se limitam a usar a técnica do disciplinamento, da ameaça e da violência como as formas de gerenciar os conflitos da unidade.
A maioria das meninas entrevistadas são negras, pobres e com envolvimento com o tráfico de drogas, seja por relacionamento amoroso ou pelo trabalho como “mulas” ou “olheiras”. Quando sentenciadas por homicídio, não raro foram motivadas a cometer o crime após serem vítimas de violência sexual.
Na comparação com os adolescentes infratores, ficam mais tempo internadas do que eles mesmo tendo cometido a mesma infração. De acordo com a pesquisa, boa parte das meninas internadas praticaram crimes em um ambiente cercado de violência e vulnerabilidade social.
Sem espelho
De acordo com o artigo 68 da Lei 12.594/12, que criou o Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (Sinase), é assegurado ao adolescente casado ou que viva união estável o direito à visita íntima. Na prática, contudo, as meninas, diferentemente dos meninos, não desfrutam desse benefício e, em algumas unidades, não podem nem se olhar num espelho.
Algumas instituições proíbem também abraçar ou tocar umas às outras. “Infelizmente, a lógica dessas instituições é semelhante à das cadeias para adultos”, diz a coordenadora da pesquisa, Marília Montenegro.
Sem registro
Conforme a pesquisa, poucas adolescentes tiveram acesso ao seu Plano Individual de Atendimento (PIA). O plano de cada interna deve conter, além dos dados de registro, a gestão das atividades a serem desenvolvidas com ela e a previsão de saída da adolescente da instituição.
A maioria sequer sabia no que consistia o plano e, em alguns Estados, o instrumento não é elaborado de forma sistemática. O ECA prevê a elaboração do plano para o cumprimento de medida socioeducativa (seja em regime de prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade ou internação).
“É um desmanche total do que prevê o ECA. Se o Estado não se prontifica sequer a conhecer as meninas, então, de fato, o que ele vem fazendo é tão somente punir”, avalia a pesquisadora.
Para acessar o relatório completo, clique aqui (Fonte: CNJ).

Fundação Casa tem mais reincidentes do que novatos

O adolescente Marcelo (nome fictício) nem completou 18 anos e já está em sua quarta passagem por tráfico de drogas. Em todas as vezes nas quais foi flagrado, o juiz o liberou da internação. Em 2015, porém, ele  pisou pela primeira vez na Fundação Casa.
Mesmo com esse histórico, a fundação registra Marcelo apenas como réu primário. Ou seja, nas estatísticas oficiais da instituição ele cometeu só um ato infracional — como é chamado o crime cometido por menor.
Mas um relatório produzido pelo Ministério Público Estadual, divulgado na semana passada e que leva em conta a ficha completa do jovem, mostra que a situação é bem pior que a oficial: enquanto a fundação defende que 15% dos internos são reincidentes, o ministério diz que  51% dos jovens de unidades da capital já cometeram outros crimes — portanto, o sistema abrigaria mais reincidentes do que “novatos”.
“Se depois de condenada uma pessoa pratica novo crime, ela é reincidente. Não importa a infração ou a pena anterior”, argumentou o promotor da Vara da Infância e Juventude Tiago de Toledo Rodrigues.
Entre o público masculino, a situação é ainda pior. Dos adolescentes homens internados na capital, 55,3% eram reincidentes em algum tipo de ato infracional.
Um dos principais problemas gerados pela diferença nos números é que essas estatísticas são as que norteiam as políticas públicas e os projetos que os internos terão de participar durante a passagem pela Fundação Casa. Um adolescente que entra pela primeira vez no sistema deve realizar atividades diferentes dos reincidentes.
“Do jeito que está, um jovem entra na unidade e divide espaço com um jovem réu primário que não é primário coisa nenhuma”, afirmou Rodrigues.
Queda de braço/ Na visão da Fundação Casa, como as demais medidas socioeducativas aplicadas aos adolescentes (como prestação de serviços e liberdade assistida) são de responsabilidade de outros órgãos — municipais e Judiciário —, a instituição não teria condições de computar as informações dessas outras penas. Já a Promotoria diz que a fundação recebe o histórico dos internos.
A solução para o embate passa por uma integração que, hoje, não existe, de acordo com a professora de direito Bruna Angotti, titular do Mackenzie e integrante do Comitê Nacional de Proteção e combate à Tortura. “Precisamos de um sistema de integração de dados sobre os presos no geral, até para podermos avaliar o sistema e criar políticas públicas”, disse.
Resposta da Fundação CASA
A Fundação Casa afirmou, em nota, que abre o seu sistema para os municípios inserirem dados sobre adolescentes cumprindo medidas além da internação, mas o retorno é baixo. Sobre as taxas de reincidência, disse que o recorte feito pelo Ministério Público é incompleto e “considera como reincidente apenas os jovens que cumpriram internação ou semiliberdade na instituição e voltaram a ser internados. Se um adolescente não recebeu medida executada pela Casa, à instituição não pode ser atribuída reincidência na prática do ato”.
ENTREVISTA: Bruna Angotti – professora de direito
DIÁRIO_ Qual a sua visão sobre as definições que o Ministério Público e a Fundação Casa deram de reincidência?
BRUNA ANGOTTI_ Não sei a fundo como funciona o processo de recepção do jovem do ponto de vista da documentação, mas acho que faz muito mais sentido o cálculo do Ministério Público. Ainda porque a Fundação Casa é uma das instituições mais fechadas que existem. Quando se tem um lugar assim, tenta-se vender uma boa imagem. Porque, se ela assumir a reincidência que o MP defende, admitirá que o sistema está falido.
Uma base de dados única e integrada ajudaria a resolver a questão?
Temos um grave problema de falta de banco de dados no Brasil inteiro, no sistema penitenciário e na Fundação Casa. O que precisamos é de um sistema de integração de dados sobre os presos e internos menores de idade, até para podermos avaliar o sistema e criar políticas públicas.
Corre um projeto na Câmara dos Deputados para aprovar o aumento do tempo de internação dos menores. Isso ajudaria a diminuir a reincidência?
Não consigo imaginar como essa proposta poderia ser positiva. Com a atual situação da Fundação Casa, aumentar o período é uma medida falaciosa.

Após terceirizada pela Fundação Casa falir, segurança é feita por concursados

Em pelo menos 40 unidades da Fundação Casa a segurança está sendo feita por agentes concursados, já que a empresa contratada pela instituição para oferecer o serviço faliu e não pagou os funcionários terceirizados, como informou o Sindicato dos Trabalhadores em Entidades de Assistência e Educação à Criança, ao Adolescente e a Família do Estado de São Paulo (Sintraemfa).
O site da empresa, chamada Aviseg Segurança e Vigilância, foi bloqueado e a RBA não conseguiu ser atendida nos telefones indicados, mesmo depois de diversas tentativas. Em nota, a Fundação Casa informou que está totalmente em dia com o pagamento do contrato com a empresa. “O repasse dos salários aos vigilantes é de responsabilidade da empresa terceirizada”, diz o texto.
Sem os terceirizados, a segurança das unidades está sendo feita pelos funcionários concursados, em regime de horas extras. De acordo com o sindicato, os trabalhadores que aceitaram cumprir a função deixaram de trabalhar na jornada tradicional, em que cumprem dois dias de expediente e folgam dois. Com a urgência, passaram a trabalhar sete dias e folgar um. Eles deverão ser remunerados pela jornada extra.
A Fundação casa informou que já abriu processo de licitação para contratar uma nova empresa para prestar o serviço. “Vale a pena ressaltar que a segurança dos centros não está sendo comprometida, sendo respeitados todos os procedimentos de segurança que garantem o cumprimento da medida socioeducativa e as visitas durante o final de semana.”
Os nomes das unidades que eram atendidas pela empresa e sua localização não serão divulgados, por questões de segurança.

Conselho da Criança e Adolescente vai pedir Audiência Pública na Alerj

Após a suspeita de meningite por um dos internos do Centro de Socioeducação Professora Marlene Henrique Alves (Cense), do Departamento Geral de Ações Socioeducativas (Novo Degase), o Conselho Municipal de Promoção dos Direitos da Criança e do Adolescente (CMPDCA) reuniu a Comissão dos Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Campos e a sociedade civil para formalizar uma minuta a ser enviada à Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro (Alerj). O objetivo é fazer com que a Casa realize, na Câmara de Vereadores de Campos dos Goytacazes, no Norte Fluminense, uma Audiência Pública para discutir os problemas que vêm ocorrendo na unidade. Na ocasião, deverão se reunir representantes de órgãos de segurança; responsáveis do Degase e do governo do estado.
Segundo o presidente da Comissão de Direitos Humanos da OAB-Campos, Luiz Celso Alves, atualmente há 154 internos no Cense, que tem capacidade para apenas 80. Além disso, o local enfrentaria problemas de abastecimento de água e haveria apenas uma viatura para locomover menores da instituição, que atende 29 municípios do Norte/Noroeste fluminense. “Há mais de 50 dias o Degase prometeu que ia solucionar o problema do abastecimento da água. Inclusive com a abertura de poço para agilizar a questão, o que ainda não feito”, declarou Luiz Celso Alves.
Enquanto isso, o jovem de 18 anos permanece internado em leito da Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em estado grave, no Hospital Ferreira Machado (HFM), com indícios de meningite. A secretaria de Saúde informou que está acompanhando o caso e que dentro de 10 dias deve sair o diagnóstico final e conclusivo da doença, providenciado junto ao Laboratório Central de Saúde Pública do Rio de Janeiro Noel Nutels (Lacen-RJ).
Em nota, o Novo Degase confirmou que o jovem é do Cense e que ele está com suspeita de meningite viral. O adolescente estava há sete meses na unidade e não havia apresentado nenhum sintoma.
“Ele foi prontamente atendido pela equipe de enfermagem da unidade, que fez contato com o serviço de emergência hospitalar da região para o encaminhamento do jovem ao Hospital Ferreira Machado. O jovem continua internado no hospital. Ressaltamos que, sempre que necessário, o adolescente recebeu atendimento médico na unidade. Afirmamos também que, com o objetivo de evitar novos casos da doença na unidade, a coordenação de saúde do departamento está tomando as providencias necessárias”, ressaltou a nota da instituição.
Fonte: G1

Especialistas discordam de deputados sobre a redução da maioridade penal

Deputados da comissão especial que analisa o Estatuto da Família (Projeto de Lei6583/13) e especialistas convidados pelo colegiado discutiram nesta quinta-feira (28) a proposta de redução da maioridade penal de 18 para 16 anos (Proposta de Emenda à Constituição 171/93) em audiência pública que discutiu o impacto da medida nas famílias que possuem filhos nessas condições.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ), convidado para participar do debate, e integrantes da comissão apoiaram a medida, mas o conselheiro tutelar do Distrito Federal Clemildo Sá e a advogada Taís Gouveia, assessora da comissão especial da Câmara que analisa a PEC 171/13, apontaram prejuízos que a redução traria para a sociedade brasileira.
Clemildo Sá afirmou que a redução da maioridade penal poderá desestruturar as famílias no País. “A redução trará consequências terríveis e vemos isso com muita preocupação, porque muitas famílias, hoje chefiadas por mulheres e que dependem de políticas públicas para sua sobrevivência, vão ser as mais atingidas”, ponderou.
Ele disse que é importante reconhecer que o adolescente é um sujeito em desenvolvimento. “Quem tem que dar condições para que ele possa se desenvolver não o faz.” O conselheiro relatou que a grande maioria dos jovens que cometem crimes já teve vários direitos violados no passado pela própria família e pelo Estado. De acordo com ele, a redução da maioridade penal não vai resolver os problemas de violência. “A impunidade do menor é uma falácia, porque o número de crimes cometidos por menores é muito inferior ao dos cometidos por adultos”, ressaltou.
O deputado Jair Bolsonaro (PP-RJ) afirmou que o menor de idade tem plena consciência do que faz e que a redução da maioridade penal vai proteger a sociedade, ao evitar que o jovem criminoso fique solto e continue a cometer crimes. “Não dá para esperar acontecer com nossas famílias e depois ficar abraçando a Lagoa Rodrigo de Freitas e soltar pombas pedindo Justiça”, ironizou.
O parlamentar afirmou ainda que o jovem infrator, muitas vezes, debocha da vítima, e relembrou o caso do adolescente Champinha, que assassinou os jovens Liana Friedenbach e Felipe Caffé em 2003. “Não se pode dizer que ele não sabia o que estava fazendo. Ele a estuprou cinco vezes!”, ressaltou.
O deputado Paulo Freire (PR-SP) defendeu a revogação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), pois, segundo ele, é uma legislação que ampara a impunidade dos jovens infratores.
O presidente da comissão, deputado Sóstenes Cavalcante (PSD-RJ), disse que os menores infratores causam uma sensação de insegurança para a sociedade. “Quem deve reeducar os jovens é a família. As famílias precisam ser reestruturadas”.
Consequências
A advogada Taís Gouveia afirmou que a redução da maioridade penal pode trazer outras consequências, que vão além das questões ligadas à segurança pública. “Se a gente vai reduzir a maioridade para 16 anos, vai se poder tirar carteira de motorista, vai se poder consumir álcool e isso ainda pode afetar a lei de crimes sexuais. Se de um lado atende o clamor da população para que seja solucionada a violência, desprotege a criança e o adolescente dos crimes de violência sexual”, explicou.
Taís Gouveia disse que vários países que tinham reduzido a maioridade penal voltaram atrás. “A tendência mundial é aumentar a maioridade, e, em países considerados mais seguros, a maioridade é de 18 anos ou mais.” Ela defendeu políticas públicas para evitar o aumento da criminalidade.

Movimentos sociais pressionam contra redução da maioridade penal

Centenas de estudantes e representantes de movimentos sociais participaram, na quarta-feira (27), da Marcha Nacional Contra a Redução da Maioridade Penal, em Brasília. O grupo se dirigiu à Câmara dos Deputados e pediu a derrubada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) de número 171, em debate no Congresso Nacional e que propõe diminuir o marco etário penal para 16 anos.
Na entrada da Câmara, os manifestantes foram recebidos pelas deputadas Benedita da Silva (PT-RJ), Érika Kokay (PT-DF) e Maria do Rosário (PT-RS), mas barrados pela segurança. Aos gritos de “Não à redução!” e “Sim à educação!”, o movimento pacífico pediu participação na comissão especial que analisa propostas para alterar a maioridade 
“Viemos aqui para tentar uma autorização e poder entrar na sessão”, declarou Valdson Anunciação Pereira, 32 anos, líder do Movimento Contra a Redução da Maioridade Penal, com sede em São Paulo.
A pressão do movimento obteve resposta positiva do deputado André Moura (PSC-SE), presidente da comissão. Em plena sessão deliberativa, o parlamentar saiu para dialogar com os manifestantes e prometeu agendar uma reunião especial com a presença de representantes dos movimentos sociais contrários à redução da maioridade penal.
“Eu recebi o convite da deputada Benedita, da deputada Maria do Rosário, da deputada Érika Kokay e do deputado Orlando Silva (PCdoB-SP) para estar aqui conversando com vocês”, disse, antes de explicar o cronograma de trabalho da comissão.
A deputada Maria do Rosário (PT), ex-ministra-chefe da Secretaria de Direitos Humanos, afirmou acreditar na derrocada da PEC 171 por meio do “convencimento” (ouça o áudio abaixo). “Ao contrário do que alguns prometem, ela poderá ampliar a violência e, não, diminuir”, analisa.
Juventude negra 
“Eu já estou nessa luta do Movimento Negro há muitos anos”, conta Domingos Olímpio, 62 anos. Em depoimento exclusivo ao Portal Brasil, o membro do Movimento Negro Unificado no Distrito Federal posicionou-se contra a redução da maioridade penal. “Vocês já foram dentro de um presídio? Eles querem colocar uma criança lá dentro”, rebateu.
A inconstitucionalidade da PEC 171 foi um dos pontos argumentados por Carlos Nicodemus, vice-presidente do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e Adolescente (Conanda), para a rejeição da medida. Presente à marcha, ele afirmou que a proposta agride garantias fundamentais (ouça o áudio abaixo). “Isso é uma cláusula pétrea, segundo o artigo 60”, contestou.
Para ouvir as entrevistas, clique aqui (Fonte: Portal Brasil).

Unesco se posiciona contra a redução da maioridade penal no Brasil

Por meio de nota divulgada nesta quarta-feira (27) a Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura) manifestou seu posicionamento contra a redução da maioridade penal no Brasil, em discussão no Congresso por meio da proposta de emenda à Constituição (PEC 171/1993).
“A Unesco no Brasil entende que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, Lei n. 8.069/1990) já prevê mecanismos de ressocialização de jovens infratores, sendo necessário aperfeiçoar a sua aplicação”, diz a nota. A organização lembra ainda que o Brasil é signatário da Convenção sobre os Direitos da Criança. A convenção, ratificada pelo Estado Brasileiro em 1990, estabelece que criança é “todo ser humanos com menos de dezoito anos de idade”.
A Unesco aponta a necessidade de assegurar os direitos fundamentais às crianças e adolescentes. “. O acesso à educação, a permanência na escola e a aprendizagem devem estar no topo da lista de prioridades, para que a violência não seja um caminho decorrente da falta de opções para uma parcela da juventude”, diz o texto.
A manifestação da Unesco acontece no data instituída como Dia Nacional de Luta Contra a Redução da Maioridade Penal por meio de conselhos e movimentos da sociedade civil, com ações em diversos estados. Em Brasília foi lançado pela manhã um portal sobre o tema (http://www.maioridadepenal.org.br/) . Iniciativa da Fundação Abrinq, ele reúne informações e cronograma de atividades de mobilização em todo o Brasil. Está prevista na parte da tarde uma “Marcha contra a Redução da Idade Penal” que irá até o Congresso Nacional. A mobilização foi definida na Plenária Nacional dos Conselhos e dos Movimentos Sociais contra a Redução da Maioridade Penal, com participação de 69 entidades da sociedade civil. A concentração será na Biblioteca Nacional, às 14h.
Fonte: EBC

Redução da idade penal:retrocesso civilizatório

No momento em que as discussões acaloradas sobre a maioridade penal tomam conta dos lares, é preciso que possamos debater as consequências, os feitos e as causas sobre a redução da maioridade penal para nossos jovens.
É importante destacar que atualmente, a partir dos 12 anos, qualquer adolescente é responsabilizado pelos atos cometidos contra a lei, através de medidas socioeducativas previstas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que tem o objetivo de ajudá-lo a recomeçar e a prepará-lo para uma vida adulta, de acordo com o socialmente estabelecido. É parte do seu processo de aprendizagem que ele não volte a repetir o ato infracional.
Diante disso, é preciso distinguir impunidade de imputabilidade. A imputabilidade, segundo o Código Penal, é a capacidade de a pessoa entender que o fato é ilícito e agir de acordo com esse entendimento, fundamentado em sua maturidade psíquica.
O ECA prevê seis medidas educativas: advertência, obrigação de reparar o dano, prestação de serviços à comunidade, liberdade assistida, semiliberdade e internação. A medida é aplicada, caso a caso, variando de acordo com a gravidade da situação, do ato infracional.
É preciso que a lei seja aplicada e que as instituições tenham melhores condições para a reeducação desses jovens, para que o espaço não se torne uma prisão como qualquer outra.
Não há dados suficientes que possam demonstrar que o rebaixamento da idade penal reduz os índices de crimes praticados por crianças e adolescentes. Ao contrário. Dado impressionante revela que 65% dos jovens em conflito com a lei vivem em família desorganizada, junto com a mãe abandonada pelo marido e que, por vezes, tem filhos de outras uniões também desfeitas e luta para dar sobrevivência à sua prole.
Tenho certeza que a inserção destes jovens no sistema penal brasileiro é completamente ineficaz e os tornará estudantes do crime e, evidentemente, com chances de reincidência, uma vez que as taxas nas penitenciárias são de 70%, enquanto no sistema socioeducativo estão abaixo de 20%.
Para ler o texto completo, clique aqui (Fonte: A Tarde)

A vida e os problemas das meninas infratoras

Há pouco mais de 600 delas no país, ou 4% do total de adolescentes internados. Suas demandas e necessidades recebem pouca atenção. A fim de saber como elas vivem, o Conselho Nacional de Justiça encomendou um estudo à Universidade Católica de Pernambuco. As pesquisadoras visitaram, entre 2013 e 2014, unidades de internação de cinco cidades: São Paulo, Brasília, Porto Alegre, Recife e Belém. Gravaram mais de 100 horas de entrevistas com as meninas invisíveis. ÉPOCA teve acesso ao levantamento inédito. “Não há estabelecimentos adequados, estrutura física nem recursos especializados para o atendimento dessas adolescentes, seja porque o número de meninas internadas é menor, seja porque elas, em geral, não criam muitos problemas”, diz Luís Geraldo Lanfredi, coordenador na área de medidas educativas para adolescentes infratores do CNJ. 
As pesquisadoras concluíram que as garotas são tratadas com preconceito. De garotos, entende-se a raiva. Nas garotas, critica-se a histeria.  As famílias as visitam menos e os parceiros as abandonam. O Estado deveria educar e reintegrá-las, mas não tem como avaliar o próprio trabalho, pela ausência de dados. “Sobre as garotas, não havia nenhuma informação compilada. O sistema é todo pensado na lógica masculina”, diz Marília Montenegro de Mello, coordenadora da pesquisa.
A reportagem foi a três unidades e conversou com funcionários, dirigentes e sete garotas internadas, com idades entre 15 e 20 anos (aos 17 anos, o menor de idade ainda pode receber pena de detenção por três anos). Aqui as meninas serão todas “Marias”, para preservar suas identidades. Estão internadas porque praticaram “atos infracionais” graves, o nome técnico dos crimes cometidos por menores de 18 anos. Tráfico de drogas, roubo e homicídio estão entre os mais comuns. Há nas unidades um misto de delicadeza e agressividade, de malícia e ingenuidade. Lidar com a ambivalência, tão feminina e tão típica da adolescência, é um desafio tremendo para essas instituições.
Para ler a matéria completa, clique aqui (Fonte: Época)