Segue uma reportagem do site Rede Bom Dia sobre um caso que, infelizmente, não pode ser considerado exceção: uma mãe que acha que seu filho dá tanto problema, que prendê-lo irá assustá-lo e ele “tomará jeito”. Segue a explanação do caso e abaixo, a opinião de uma psicóloga, argumentado que mais do que a punição e a violência, os pais precisam acreditar no diálogo como forma de solução.
Desesperada, mãe “quer” filho na FEBEM.
Ela se apega à ideia de que se o filho trabalhar, vai ter um futuro “honesto”. Se apanhar, vai entender os erros. Se ela enfrentar os “mano”, vai resgatá-lo. Em apenas um ano, a ajudante geral K.A.S., 35, viu o seu adolescente abandonar a escola, perder o emprego, a namorada e ser duas vezes fichado: por furto e por tráfico de drogas.
Desesperada, ela mesma o denunciou à polícia. Tentou convencer delegado, Conselho Tutelar e Ministério Público de Rio Preto a levar L.R.C., 16, para a Fundação Casa. Mais uma vez a mãe se apega. “Quando ele sair de lá, vai entender o nosso amor, o valor da família.”
A tarde do dia 30 de dezembro foi passada dentro do plantão policial, depois que K. encontrou cerca de 100 gramas de maconha numa roupa de L. Já havia ligado outras vezes para a polícia, mas, sem encontrar nada, os policiais só podiam conversar e dar “prensas” no garoto.
“Fugiu do controle. Quis internar, levei no psiquiatra, arrumei emprego, briguei com traficantes. Entreguei para a polícia. Por que a Justiça não faz nada?”
Começo/No dia 10 de janeiro do ano passado, L. completou 16 anos. Já podia ser menor aprendiz. Trocou o horário da manhã pelo da noite na escola e foi trabalhar como aprendiz de ourives. A intenção era a de ter uma profissão.
Dias depois conheceu a maconha. Em julho, furtou 30 medalhas de ouro, avaliadas em R$ 10 mil, da fábrica em que trabalhava. A mãe encontrou 13 dentro do tênis de L, o resto ele havia vendido.
Ela chamou o patrão do garoto e a polícia. Não sabia o que fazer. “Eu só chorava.”
L. foi demitido e fichado pela primeira vez. Com medo do que poderia acontecer com o filho, o mandou trabalhar com o irmão dela, que mora no Rio de Janeiro. O tio de L. não aguentou nem um mês e trouxe o adolescente de volta. L. “sumia” de noite, ia ao encontro das drogas.
Pauladas: A namorada havia terminado o relacionamento, perdeu dois empregos, a direção da escola mostrou aos pais gravações com o adolescente vendendo droga dentro da unidade. A mãe o tirou da escola.
Sem nada para fazer, L. passou a sair à noite de casa, no Jardim Dom Lafayette, e só voltar na manhã seguinte. Em um final de semana, saiu na sexta e voltou no domingo.
“Fomos em todos os lugares que você imagina para procurar meu filho. Ele chegou em casa imundo e magro.”
L. começou a sair todas as noites. Esperava os pais dormirem e pulava a grade. A mãe acordava de madrugada e ia atrás do garoto.
Fez de um pedaço de madeira seu grande aliado. Quando encontrava L. “descia o pau” no adolescente.
Chamava a atenção de todos com as brigas no meio da rua.
No dia 30, quando chegaram do plantão policial, às 18h, pegou o pedaço de pau e quebrou a TV e o ventilador do quarto do filho. “Pensa que resolveu? Fomos dormir às 11h da noite e acordei à meia-noite e meia. Cadê ele? Fui atrás dele e bati com o pau por um quarteirão inteiro”, recorda.
Prisão: Há uma semana o adolescente foi proibido, pela mãe, de sair de casa. Só ontem cedo que ele tinha de ir ao encontro dela em um supermercado para entrevista de emprego.
“Não foi. Só apareceu no começo da tarde e disse que me esperou lá na frente. É mentira.”
L. disse ao BOM DIA que esteve sim no supermercado e que eles se desencontraram.
Nesta sexta-feira (4) à tarde o adolescente estava nervoso. Não concorda com a alternativa de “cárcere privado” que a mãe adotou para evitar que ele vá encontrar os “mano”.
“Tudo para minha mãe é droga. Eu não posso pôr o pé na rua. Ela não acredita em mim. E faz escândalo o tempo inteiro.”
Diz que gostaria de voltar a estudar. Não se sente preparado para trabalhar agora.
“Não sei responder agora o que quero do futuro, mas se ela fizer isso [colocá-lo na Fundação Casa] não vai nunca mais me ver”, diz, revoltado.
Enfrentamento passa por diálogo e ajuda
“Está claro que essa mãe está desesperada. Mas a Fundação Casa não é a solução para os problemas da família”, afirma a psicóloga Thaissa Lopes, de Rio Preto.
Ela diz que o diálogo e a ajuda psicológica podem ser muito mais eficazes para resgatar o garoto das drogas.
“Se ele não aceita tratamento, o primeiro passo pode ser a família procurar ajuda.”
Segundo a especialista, a mãe vai reencontrar o equilíbrio emocional e, com isso, ser mais eficiente e terá mais recursos para ajudar o adolescente e até levá-lo para tratamento.
Thaissa diz que os pais devem estar atentos às mudanças de comportamentos dos filhos, em especial, se eles passam a se afastar da família, deixar de lado os estudos e se “envolver” com a rua. “O adolescente não deve se sentir vigiado, mas precisa ser. Se a família descobrir que está usando drogas, precisa de ajuda especializada.”
Em Rio Preto, faculdades de psicologia oferecem tratamento gratuito. A pessoa deve ir até uma das faculdades para passar por avaliação e entrar no cadastro.
O Caps/Álcool e Drogas, na Vila Clementina e no Bom Jardim, atua na diminuição dos danos causados pelo vício. A Igreja Católica mantém a Pastoral da Sobriedade. Em várias paróquias são feitas reuniões semanais para tratar de dependência de drogas lícitas e ilícitas. Os programas são de graça.
A partir de agora, a internação de dependentes não vai mais depender da vontade ou não deles. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, determinou que, depois de avaliado por equipe médica, se constatado que o usuário perdeu o domínio sobre sua saúde, vai ser internado compulsoriamente, com o aval da família.